quinta-feira, 12 de maio de 2016

A tragédia anunciada e ignorada

O Senador Cristovam e o Senador Collor declararam haver buscado alertar a Presidenta quanto a necessidade de falar com a população, com franqueza, sobre os motivos que a levavam a mudar o programa apresentado durante as eleições e com o qual as ganhara. Também o responsável pela área de comunicação do seu governo fez o mesmo - terminou o seu relatório sendo vazado para a imprensa, onde falava que "a comunicação do governo é errática".

- Claro que isso não é motivação para a destituição da Presidenta eleita. Mas reitera o quanto cabeça dura pode ser uma pessoa. Pessoa que se recusa a dar ao interlocutor o benéfico da dúvida na razão ("e se ele tem razão? ...") Posso bem imaginar o quão abissal deve ter sido o sentimento de solidão da Presidenta - uma presidenta não exercitada em nenhum cargo eletivo, inexperiente total e pessoalmente pouco afeita às conversações e adulacoes que chamam "fazer política". 

Mas sinceramente lamento que a primeira mulher eleita para o cargo de Chefe do Executivo Federal tenha incorrido em tantos erros, ciente que era de que seus adversários postavam-se como lobos esfaimados, vigilantes para um seu qualquer descuido. Como ouvi hoje de um dos muitos comentadores na Tv Brasil (que aliás vem realizando um excelente trabalho jornalístico e de informação, através dos vários programas de debates e das participações de especialistas nos plantões do Repórter Brasil), formou-se a vontade de uma maioria contra a Presidenta eleita.

E essa maioria foi sendo fermentada - fermentada, sim, como fungo, bolor -, na medida em que a constelação de elementos ia se ajuntando: à crise internacional juntava-se o tenaz e sórdido bloqueio a todas as propostas que ela enviava à Câmara dos deputados. Seus adversários não se furtaram a declarar, por várias vezes, em convescostes entre pares de talvez mesmo quilate ético, que ela não terminaria o mandato, ou que poriam o seu governo para sangrar até o fim! 

Mas ela sabia, disso tudo estava ciente. Mas não foi capaz da inteligência intuitiva que a vida aquinhoou ao Lula e seguiu apostando em manter-se dentro de seu gabinete, como num bunker, cuidando de trabalhar intensamente pelo país. Honesta, honrada, sem tergiversar com "os malfeitos" (vejam-se todos os atos por ela praticados no sentido de desmantelar processos de corrupção - quem se lembra da alta dignidade do Controlador Geral da União por ela nomeado? quem se lembra do fato de ela ter determinado a troca de toda a direção de Furnas? de ter escolhido uma profissional de carreira da Petrobras para dirigir a nossa maior estatal e esta haver trocado todos os cargos de direção da empresa?), mas vitimada pelo partido da mídia oligopolizada, em conluio com todas as forças políticas que apenas querem maximizar os seus lucros pessoais e corporativos, em aliança com os interesses de empresas estrangeiras, contra os interesses nacionais, que souberam habilmente se aproveitar da crise econômica Internacional e das inabilidades políticas (no trato político, das relações pessoais) da Presidenta. 

Esperemos que o STF, quando do julgamento do mérito, o seu Plenário não se mostre acovardado à tutela da "opinião publicada", trombeteada dia e noite, em todos os espaços, por meio de aparelhos de televisão ligados no canal da voz única. - Será que a instância do Judiciário encarregada da guarda da Constituição e que tem em seu passado as sombras de haver negado habeas corpus a Olga Benário, grávida de um brasileiro, entregando-a às mãos dos nazistas; haver apoiado o regime militar; e haver decretado a constitucionalidade do confisco do Collor, terá a estatura que a história está a lhe exigir?

Nenhum comentário: