quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Carlos Lacerda e Silas Malafaia: a versão bufa da farsa

Dizem que a história quando se repete é na versão farsa (gênero teatral). A conjuntura que atravessamos, no entanto, está mais para bufa. É o que parece.

O mesmo discurso ensandecido elaborado e disseminado, muito com o esforço de Carlos Lacerda, para construir a idéia de que as REFORMAS liberais (reforma agrária, redistribuição de renda, controle da evasão dos lucros aqui auferidos pelas multinacionais, investimento na educação pública de qualidade) exigidas pelos setores progressistas da sociedade e em perspectiva de realização pelo governo Jango constituíam a iminência da revolução comunista no país - estes representados como monstruosidades comedoras de criancinhas -, hoje é reatualizado, tendo os homossexuais e travestis como a nova encarnação do demônio, o demônio da vez.

E, integrando o elenco dessa ópera risível e patética - mas sobretudo disseminadora do ódio ao diferente -, a postular o papel ocupado na década de 50 e 60 por Carlos Lacerda, temos a figura de Silas Malafaia. 

 Ambos operam com a mesma estratégia: construir representações deformadas.

Suas trombetas, longe da antiga máquina de escrever manual e linotipos à chumbo derretido, hoje são feitas - à custa igualmente de muito investimento dos fiéis*, convictos da "boa obra de deus" - de potentes antenas transmissoras, via satélite, com som e imagem em cores.

Um projeto de lei que tem por finalidade, cumprindo a determinação constitucional, reprimir as práticas discriminatórias (humilhações, agressões, assassinatos etc.), é apresentado como que a incentivar, estimular, "beneficiar" homossexuais.

A reivindicação para que passe a valer, para homossexuais, travestis e transexuais, os princípios constitucionais e dos direitos humanos internacionais - cujos tratados o Brasil assinou e ratificou -, da dignidade da pessoa e da isonomia de direitos, é veiculado como sendo a manifestação do desejo de se constituirem em casta privilegiada.

É disseminado o discurso que os homossexuais pretendem de dominar o país, enquanto o projeto real de teocratização do estado vem sendo sistematica e coordenadamente implantado no país - sessões de cultos em todas as casas legislativas, no palácio do Planalto, nas universidades, repartições públicas; os projetos de lei determinando a presença de um exemplar da Bíblia na mesa dapresidência no início dos trabalhos de cada sessão legislativa; a obrigatoriedade do ensino religioso; projetos de lei propondo a utilização de recursos do FGTS para construção de templos religiosos, entre outros no mesmo sentido.

Mas, sabe o que é que mais causa tristeza nesses embates infamantes, hoje?

De um lado, o nível de consciência crítica, de capacidade reflexiva, de nossa população ainda se prestar a esse tipo de manipulação.

- Na década de 1960, 40% da população era de analfabetos. Hoje, somente 25% da população domina completamente o uso do idioma, 28% é de analfabetos funcionais. Do contingente de universitários, 38% apresentam a mesma incapacidade, índice que aumentou em dez anos.

De outro, o fato de aquele partido que as forças democráticas, juntamente com as juventudes utópicas dos anos oitenta, entre elas as LGBTs, prenhes de fome por república, democracia, direitos humanos, liberdade, justiça social, trabalharam com tenacidade para construir, ter se alinhado precisamente com essas forças totalitárias (sim, porque deseja impor à toda sociedade a SUA visão religiosa de mundo) e, hoje, ser o seu algoz.

O Presidente da Câmara dos Deputados é do PT.

O Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara é do PT.


Parodiando Gregório de Matos Guerra:

- Triste Brasil!


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* Lacerda utilizou-se da captação popular (subscrição pública) para financiar o projeto do seu jornal, a Tribuna da Imprensa: adquiriu o prédio, as máquinas e ainda sobrou para capital de giro. Até lotes de terrenos Lacerda recebeu. Em 1961, porém vendeu tudo, por problemas econômicos, ao genro da proprietária do Jornal do Brasil. Este por sua vez, em 1962, transferiu, a empresa - ativo e passivo -, a título gratuito, segundo declarou algumas vezes o seu detentor, o jornalista Hélio Fernandes, que a tocou dali pra frente. Segundo o portal da Wikipédia, em 02 de abril de 1964 o jornal teria publicado a notícia:
"Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a história brasileira já registrou, o Sr João Goulart passa outra vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já conheceu."

Um comentário:

Parral disse...

Compartilho desta visão - com preocupação: O BRASIL AVANÇA NUMA DIREÇÃO, mas parece retroceder em outras.
Ainda vivemos certa esquizofrenia ideológica.
Ler GENEROFOBIA - no blog:
http://parralblog.blogspot.com.br/